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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Meu coração


Meu coração é como um velho albúm de fotografias de família. Fica escondido dentro de um velho armário corroído por traças. Fotos amareladas pelo tempo, sorrisos congelados e propositais para um fotógrafo desconhecido. A poeira sobe e fica visivel sob o filete de luz que entra pela janela enquanto viro as páginas.

Meu coração não tem forma, não como o do Kurt Cobain que tinha forma de caixa, o meu tem apenas som. Soa como uma melodia dos Bad Seeds em que o Brian Molko colocou uma letra falando de saudade, angústia e desejo cantanda por uma banda qualquer de post-hardcore.

Meu coração é um tiro seco. Na vertical, em superfície lisa geralmente preta, onde luzes de neon me cercam num lugar com uma música dançante qualquer.

Meu coração é um puteiro sujo e barato cujo os quartos são habitados por ninfetas feias, amputados bissexuais, michês baratos, cadelas no cio, virgens mulçumanas e cafetinas velhas e decadentes.

Meu coração é um fim de tarde numa cidadezinha do interior, o vento sopra o vapor do café fresco e da broa de fubá quentinha. O cochilo na rede aproxima o que se deseja, o cigarrinho de palha queima devagar. Moças bonitas passeiam com rapazotes pela praça, estes suspiram apaixonados e a lua começa a surgir por trás das montanhas.

Meu coração é um filme de quinta categoria projetado num cinema imundo do centro, onde os espectadores jogam pipoca e suas guloseimas nas tela vaiando os mesmíssimos clichês relatados na história de enredo pobre.

Meu coração é um bar escondido e vazio, onde um bebado segura outra dose de conhaque entre os dedos trêmulos enquanto a Billie Holiday canta ao fundo.

Ritmo desajeitado, inquieto, granada prestes a ser detonada, tênis de cano alto, pele branca, navalha afiada, algema, Fernando Pessoa e Baudelaire, meia luz, lágrima, desejo, saudades, queda, cheiro, gosto. Meu coração.

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