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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os mesmos dias

Ele acorda cedo, mal parece que dormiu. Culpa do excesso de cafeína ou coisa que o valha. Passa a mão pelo cabelo ensebado. O quarto um caos completo. Cinzeiros, copos, livros espalhados. Bukowski, Wilde, Garcia Marquez, Palahniuk, Clarice. Todos eles o olham do chão, das estantes de todos os lugares.
Enfim ele sai da cama, vai pro banheiro. Levanta os olhos, fita sua imagem no espelho e não vê nada, a mesma coisa todas as manhãs. Água no rosto, escova os dentes. Abre o armário. Camiseta de banda, calça justa e tênis velho. Sai de casa, vai até a padaria. Ele anda dois quarteirões pra chegar lá.
– Um café, por favor.
Café sempre está com o gosto que você não quer, e desce rasgando.
Ele acende o primeiro cigarro do dia enquanto espera o ônibus, e observa a garota da padaria. Sempre sorridente, chapinha no cabelo, calça justinha. Daquelas que ficam felizes se ganham uma buzinada da geração da poltrona, pescando felicidade na sarjeta. Ela acredita em felicidade, mas ele sabe que isso não existe, e essa descoberta não foi nada suave pra ele.
Entra no ônibus, olha pros jovens em seus uniformes de escola. TODOS IGUAIS, repetem o cabelo do amigo, a mochila, o colar, as opiniões que escutam na TV, as musicas que esfregam em suas fuças na mídia. Ele sorri, sarcasticamente. Cansou dessa molecada com preconceito no rosto e patriarcado nos dentes. Eles vão acabar em escritórios, repetindo suas vidas, igual a seus pais.
Chega à faculdade, a mesma coisa do ônibus, só que com gente mais velha, apesar de alguns ainda terem aquela maturidade. Gente bitolada. Gente que nunca respirou, só colocou ar pra dentro e pra fora. Ele assiste a umas aulas boas, fica entediado nas chatas, sai pra fumar um cigarro. Conheceu pessoas legais, gosta delas, sorrisos amarelos e sinceros que ajudam no cotidiano.
Ele corre pro seu maldito emprego. Cansou de imaginar torturas ao seu chefe e a grande maioria de idiotas que são seus colegas de trabalho. Ele não suporta engolir moscas como eles. Rotina idiota, função repetitiva, a mesma merda todo dia, e esse mar de sorrisos de conveniências. Um dia , ele joga o computador pela janela, coloca uma bomba no banheiro e explode essa merda. Aí eu quero só ver.
Saiu de lá, ônibus , 8 da noite. ônibus com lugares vazios, pessoas e vidas vazias. E ele se perde em devaneios sobre como é a vida e a rotina desses seres transeuntes de olhar vago.
Novamente seu quarto, Placebo tocando, janela aberta. Finalmente só ele a podridão que ele acumula todos os dias. O telefone toca.
- Você ta bem?
- Tô.
- Sinto sua falta.
- Você sabe que eu também sinto.
- Eu te amo.
- Eu também te amo Alice.
- Fica bem.
- Vou tentar.
Ele acende um cigarro, vai até a janela. Primeiro olha pro céu, depois pras estrelas, seus olhos caem até as montanhas e a rodovia que passa em seu entorno.
Tudo isso pensando nela e assim eles se relacionam sem saber.
Ele volta pro quarto, procura seu reflexo no espelho. Não vê nada.
Então desaba.

Não existem mensagens em suas palavras.
Só um dia igual, que nunca acaba.

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